JOLISMAR BRUNO / hiper noticias
02/09/2024 - 06:56
Os amantes do 'grau' tem dominado o Brasil e ganhado cada vez mais adeptos em Cuiabá atraindo, principalmente, o público jovem da periferia. A pauta já tem sido defendida por políticos em campanhas eleitorais que se propõem a lutar pela regulamentação da prática, que consiste na performance de manobras com motocicletas, como uma modalidade esportiva e a construção de espaços adequados, como pedem os adeptos do “ran-dan-dan-dan”. Contudo, o 'grau' ainda é considerado infração gravíssima conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
“Grau” é o nome dado à prática de manobras radicais em motos, na qual o piloto equilibra-se apenas com uma roda. Wenderson Júnior ou 'Zinho do Grau', cuiabano raiz, foi praticante do grau durante cinco anos, mas deixou de lado pela falta de lugares apropriados.
“Para aprender o grau tem que estar todo dia treinando. Tem que ter um espaço longe de bairro, porque faz barulho demais. As gurizadas gostam de zoar as motos. Borrachão, queimar pneu, acelerar, cortar de giro. Tudo isso faz barulho (sic)”, explicou
O grau é perigoso e arriscado e isso é reconhecido pelos praticantes. Por isso, segundo Zinho, eles buscam locais afastados para treinarem. Em Cuiabá, ele explicou que existe uma rua com pouca movimentação do bairro Distrito Industrial, onde os motociclistas se reúnem com frequência, mas ainda assim, os treinos são constantemente encerrados por chamados à polícia da vizinhança.
“A gurizada tem que ter alguém para falar por eles, os caras são descabeçados, novos, de 20 anos para baixo. A maioria da antiga, já é pai, trabalha, não tem mais tempo de estar empinando (sic)”, afirmou. Zinho também defende a criação de uma associação com representantes para serem linhas de frente do movimento.
“Só vai nesses lugares quem gosta! Quem não gosta, não vai lá para ficar vendo os ‘caras’ acelerando a moto. Deveria ter um espaço, um lugar para isso. Tem bares para todos os lados, as pessoas gostam de tomar cerveja. Nós não gostamos disso, gostamos de dar grau”, defendeu. Zinho ainda afirmou que a atual juventude rompeu com as modalidades tradicionais, como o futebol, e agoram se interessam por outros hobbies, como o 'grau'.
Não existe um número exato de quantas pessoas integram o movimento, visto que ainda não existe regulamentação ou associação que represente os praticantes das manobras. Segundo Zinho, no movimento, “qualquer pessoa é bem-vinda”.
CHAMA NO GRAU “MLK”
O grau é extremamente perigoso para quem pratica e realiza as manobras. Por isso, é indispensável o uso de capacetes e, se possível, outros equipamentos de segurança como joelheira.
A manobra mais desejada é a “piloto automático” que consiste em controlar a moto somente com a roda traseira no chão, sem as mãos, e assim o piloto “acha o equilíbrio perfeito usando somente o peso do corpo".
Outra manobra que nota-se ser arriscada somente pelo nome é a "suicida" que consiste no equilíbrio do piloto em pé, usando somente o freio do motor e a sensibilidade no punho da aceleração.
No grau também existem outras manobras, como o surfe, em que o piloto se deita enquanto conduz a moto em alta velocidade.
Há também o “borrachão” em que a moto é acelerada e gira a roda traseira, mas não sai do lugar, fazendo subir fumaça e, obviamente, muito barulho.
TRANSFORMAÇÃO EM ESPORTE
O grau tem ganhado cada vez mais praticantes e pode-se considerar uma manifestação cultural periférica. A temática já chegou a ser discutida no Congresso Nacional por meio do projeto de lei apresentado pela deputada federal que não está mais no exercício, Alê Silva (PSL-MG), em 2021.
Em Mato Grosso, políticos também têm defendido elaborar projetos para autorização do grau e criação de espaços próprios para prática. Em Vera (374 km de Cuiabá) já existe uma pista própria feita e inaugurada pela gestão municipal.
Caso o grau seja regulamentado como um esporte, Zinho explicou que as competições iriam ocorrer fazendo a avaliação da execução das manobras e finalização. “Quanto mais a dificuldade da manobra, mais admiração tem”, explicou. Atualmente já existem algumas competições, mesmo que sem regulamentação.
GRAU É CORRETO?
Apesar do grau estar cada vez mais ganhando adeptos e até mesmo propostas para criação de espaços apropriados, o Código de Trânsito Brasileito (CTB) considera infração gravíssima conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em uma roda, que é o caso do grau.
A penalidade prevê multa de R$ 293,47 e suspensão do direito de dirigir de dois a oito meses. Em caso de reincidência no período de 12 meses após a aplicação da primeira penalidade, a nova proibição de dirigir poderá ser de oito a 18 meses.
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