midianews
10/03/2025 - 07:59
Mato Grosso tem vivido anos prósperos nos setores do comércio, da indústria e do agronegócio, porém o crescimento populacional não tem acompanhado o desenvolvimento econômico, e isso tem gerado escassez de mão de obra na Capital.
O Estado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados em 2024, vive um período chamado por especialistas de pleno emprego. O termo basicamente indica que todos que buscam por um trabalho conseguem encontrar ocupação em curto prazo.
Ou seja, há muitas ofertas de emprego e um número insuficiente de pessoas para preenchê-las. E essa escassez se tornou um problema para as empresas, que penam com falta de pessoal.
Outros dois fatores que causam esse fenômeno em Cuiabá são a falta de qualificação e a migração de trabalhadores para as cidades do agronegócio.
“O agronegócio não é um grande gerador de emprego, mas trouxe muitas empresas em função dele. Criaram-se as cidades pólos do agro, para onde as pessoas migram em busca de melhores oportunidades”, avalia Júnior Macagnam, presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Cuiabá.
“O cenário da falta de mão de obra se agravou com esse aumento da oferta de empregos e o não crescimento da população na mesma proporção. Hoje nós estamos numa situação de superemprego, e isso tem sido sentido em todos os setores, até no interior”, completa.
Circulando pela Capital, é possível encontrar diversos mercados, lojas, restaurantes, drogarias, conveniências e bares divulgando placas com ofertas de vagas. Um exemplo é o supermercado Astra Mix, no bairro Goiabeiras.
Na calçada do lado oposto ao estabelecimento, ao menos desde julho do ano passado, há uma placa e um número para contato. “Contrata-se: repositor, operador de caixa, açougueiro, auxiliar de limpeza, balconista de padaria e balconista de açougue”.
A reportagem também conversou com o proprietário do Cupim Bar, Giuliano Belo, que integra o conselho da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
“A gente está com falta de mão de obra há mais de um ano. Estou há 21 anos no segmento. E esse é o período que eu estou sentindo maior dificuldade. Nós tivemos muita gente que migrou para o serviço de Uber, iFood”, analisa.
“Também o fato de que nosso segmento trabalha com carteira assinada, no feriado, no sábado, no domingo, causa essa migração de ocupação. As pessoas querem passar o final de semana em casa. Então, isso tudo atrapalha”.
Em Cuiabá, segundo Giuliano, ainda não houve notícias de empresas do segmento de bares e restaurantes que precisaram fechar as portas por falta de mão de obra. Já no interior, especificamente no Nortão, ele afirmou que houve casos.
“A gente tem relatos de que em Sinop, Sorriso, as pessoas abrem empresa, não conseguem a mão de obra e acabam fechando. Aqui em Cuiabá, nós não soubemos de nenhuma situação assim”.
“Isso acontece quando é uma mão de obra muito especializada. Exemplo: sushiman. O empresário fica na mão do funcionário. Se ele ficar doente, tiver algum problema, causa um prejuízo muito grande, porque não tem outro como ele no mercado”.
Estratégias de mercado
Ainda segundo Júnior, a situação da escassez de mão de obra tem afetado diversos setores, porém, como no comércio e na prestação de serviços, em algum momento, o atendimento precisa de uma pessoa, a situação tem sido mais difícil.
“Economicamente, ter uma pessoa não capacitada atrapalha e muito o seu negócio. Proporcionar ao consumidor uma excelente jornada de compra aumenta a venda, fideliza o cliente, o deixa satisfeito e por isso os colaboradores têm que estar super bem preparados”, diz.
Diante desse quadro, Júnior explica que os empresários têm adotado estratégias para atrair não só os trabalhadores qualificados, mas também têm escolhido ofertar o primeiro emprego e capacitá-los.
Dessa forma, segundo o dirigente, a empresa pode focar em encontrar talentos e manter esses funcionários, que além do treinamento com cursos e qualificações, são atraídos com salários melhores, propostas de plano de carreira, vale alimentação, saúde e outros benefícios.
“Cada vez mais as empresas estão aderindo a essas estratégias, inclusive é um incentivo da CDL ofertarem planos de bonificação, planos de carreira, remuneração competitiva, clima organizacional, ambiente de trabalho acolhedor”.
“O meu conselho é: invistam no primeiro emprego, no relações públicas da empresa. Façam capacitações, treinamentos, que cada vez mais esses gestores de recursos humanos irão saber identificar, reter talentos e fazer com que adquiram a cultura da empresa”.
“Eu canso de ouvir: ‘A geração Y, Z, não quer trabalhar’. Eu não vejo dessa forma. Vejo que eles têm uma forma diferente de produção. Temos que lembrar que não há uma varinha de condão, uma mágica que vai resolver a questão da falta de mão de obra. É um processo”.
A mesma opinião é compartilhada por Giuliano, que afirmou ser uma medida também adotada em sua empresa, e que tem gerado resultados positivos com progressão de carreira entre os funcionários.
“A gente começou a criar situações para atrair no primeiro emprego. O bacana do nosso segmento é que a pessoa, em curto prazo, se ela tiver foco, pode crescer muito rápido na empresa. Eu tenho casos meus aqui que a pessoa com dois, três anos, já virou gerente”.
Imigração e migração para Cuiabá
Assim como tem havido a migração de pessoas para fora da Capital, em proporções menores muitas pessoas da região Nordeste e imigrantes venezuelanos, haitianos e bolivianos têm chegado e amenizado, em parte, o problema da falta de mão de obra.
“Eu tenho venezuelanos trabalhando na minha empresa e, até o momento, com excelentes resultados. É positiva essa imigração em contrapartida a esse cenário de falta de mão de obra. Dei capacitação, treinamento, e estou bastante satisfeito”, diz Júnior.
Já Giuliano disse que têm ativamente buscado por mão de obra nas cidades do Nordeste, região onde o desemprego atinge os maiores índices do país, conforme dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do final de 2024.
“Eu tenho trazido muita gente do Maranhão, por exemplo, para trabalhar para cá. Trago muitos jovens de fora do estado. Porque se a gente for concorrer com o cara que tem ideia de que é o patrão dele mesmo, faz o horário que quer, não vamos ter sucesso”.
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