JAD LARANJEIRA/Midia News
31/12/1969 - 20:00
Acostumadas a viver sob as amarras de correntes e sem poder chegar perto uma da outra, as elefantas Maia e Guida foram as primeiras hóspedes do Santuário de Elefantes Brasil, localizado próximo a Comunidade de Rio da Casca, em Chapada dos Guimarães (67 km de Cuiabá).
As duas fêmeas foram apreendidas pelo IBAMA de Paraguaçu (MG), onde passaram os últimos seis anos acorrentadas numa propriedade rural do advogado de um circo. Elas já viviam 40 anos em cativeiro, obrigadas a viajarem para se apresentar em espetáculos circenses.
Elas chegaram a Mato Grosso no último dia 12 de outubro – mesmo dia que foi inaugurado o primeiro Santuário da América Latina. O lugar tem 1,1 mil hectare e capacidade para receber cerca de 50 elefantes.
A fazenda foi adquirida por meio de doações de instituições internacionais que conseguiram levantar fundos para dar entrada no terreno. Serão pagos R$ 3.100 por hectare – preço considerado abaixo da média do mercado.
Em entrevista ao MidiaNews, a presidente da ONG Santuário de Elefantes Brasil (SEB), a publicitária Junia Machado, afirmou que o sonho pôde ser realizado graças ao bom coração do antigo dono, que gostou do projeto da ONG e aceitou o acordo para aquisição do terreno através de uma pequena entrada no valor, sendo o restante parcelado nos próximos seis anos.
A propriedade tem mata nativa preservada, nascentes d’água, aclives e pastos que, segundo a presidente da ONG, era tudo que estavam procurando para se tornar o lar dos animais.
“Nós escolhemos Mato Grosso e especificamente essa fazenda porque ela tem vegetação muito variada. Como aqui era uma fazenda de gados, têm pastos nativos e eles adoram isso, tem muita água também - nós já encontramos 12 nascentes, vamos poder fazer nove postos para elefantes nadarem. A segurança aqui também é boa, porque apesar daqui ser remoto, está no final de estrada, não fica passando caminhão toda hora e mesmo assim está perto de Chapada e de Cuiabá”, disse.
A publicitária Junia Machado conta que o santuário não será aberto para a visitação pública. O lugar será um espaço para os animais se sentirem livre dos olhares curiosos. Os únicos que poderão se aproximar serão os tratadores que moram no local.
Ela revela que isso é extremamente importante para elas traçarem suas personalidades.
“Essa é a primeira vez em 40 anos que elas tiveram permissão para andar livremente, sem algum tratador empurrando, mandando, ou tendo que se apresentar no circo. É a primeira vez que elas podem escolher o que fazer. Isso parece simples, mas essas decisões que elas tomam vai definir o que elas serão como indivíduos. Isso vai ajudar elas a traçarem sua personalidade. Eu acho que essa é a parte mais importante que o santuário propicia para elas – é exatamente essa etapa em que elas podem descobrir quem elas são, para conseguir viver uma nova vida”, explicou.
Calmas e brincalhonas
Maia, de 44 anos (3.600 kg) e Guida, de 42 anos (3.100 kg), são asiáticas. Elas foram capturadas ainda quando bebês na Tailândia por um circo de Portugal. Elas eram uma das atrações e foram resgatadas em 2010 pelo IBAMA de Minas Gerais e passaram a viver acorrentadas por seis anos num sítio.
Como passaram a vida toda vivendo em cativeiro – acorrentadas e sem poder se tocarem por anos – acabaram se tornando reclusas e se agrediam constantemente.
No entanto, segundo o americano Scott Blais, de 44 anos, que é um dos diretores da ONG brasileira e está acompanhando toda a transição das elefantas, hoje elas mudaram muito e estão mais calmas e brincalhonas.
Scott é responsável por toda a parte operacional do projeto. Ele veio para o Brasil em 2014 para começar a trabalhar no projeto e mora no santuário desde 2015 – quando a área foi comprada – preparando o terreno para a chegada de Maia e Guida.
“Assim que elas chegaram, imediatamente já começaram a mudar – ficaram mais tranquilas, mais relaxadas. Lá em Minas elas eram mantidas bem afastadas porque a Maia costumava agredir a Guida”, contou.
“Umas 12 horas depois que chegaram, foram colocadas juntas, no mesmo espaço, e elas foram extremamente gentis uma com a outra. Interagiram bem e nenhuma das duas demonstrou mais agressividade com a outra. A gente já está vendo personalidades diferentes emergindo das duas. Aqui elas se demonstram outras elefantas: estão calmas, tranquilas e até brincam”, comemorou.
O santuário
Conforme Junia, a ideia de construir um santuário para elefantes surgiu após fotografar elefantes para um documentário que estava produzindo.
“Fotografei em 2005 para um documentário, para mostrar a disseminação, o massacre para abastecer o comércio de marfim. O intuito era criar uma conscientização no Brasil, então fui à África varias vezes e me deparei com elefantes em zoológicos e percebi que nós também temos que fazer alguma coisa por eles. Foi então que entrei em contato com a organização da ONG ElephantVoices e pedi ajuda deles. Em seguida nos juntamos e desenvolvemos esse projeto”, explicou.
Com o apoio da ONG americana, Junia entrou em contato com Scott Blais, que é especialista em elefantes em cativeiros e gerenciamento de santuários naturais, para dar o pontapé inicial.
A ONG foi fundada no Brasil em 2013, com apoio de duas organizações internacionais que trabalham juntas dando apoio - a Global Center for Elephants, no Tennessee (EUA), e a ElephantVoices, que fazem trabalhos no Quênia e em Moçambique.
O local será monitorado por 15 câmeras de vigilância, que serão espalhados em locais estratégicos e transmitidas ao vivo através do website santuariodeelefantes.org.br para que as pessoas observem os animais interagindo em seu habitat natural.
Precisando de doações
Segundo Junia, ainda há muito trabalho a ser feito. A ONG precisa angariar fundos para construir cercas e ampliar o ambiente para os elefantes, e para isso pede doações.
“Agora a gente precisa muito de um carro pra fazer o transporte de materiais. Estamos com um emprestado, mas ele quebrou.Se alguma empresa fabricante de carro pudesse nos emprestar um carro ou doar, seria excelente. Essa pequenas coisas ajudam muito a evoluirmos para poder ajudar mais elefantes, porque tudo aqui é muito caro”, contou.
“Também precisamos de tubos usados de perfuração de petróleo. Nós compramos usados para fazer cercas. Cada lote desses tubos nos custa mais de R$ 70 mil e mais de transportes R$ 10 mil e nós precisamos de mais lotes para nosso santuário. As cercas são a parte mais cara do nosso projeto, mas aqui esses tubos saem mais barato do que nos EUA”, disse.
A presidente ressalta que, além dos tubos, também são aceitas doações de qualquer ferramenta que seja usada em fazenda.
“O que a gente quer é oferecer uma vida melhor para os elefantes e mostrar para essas pessoas que mantém os elefantes em cativeiro o beneficio desse lugar aqui. Ajudá-las a conhecer e elas poderão ver como eles se recuperam maravilhosamente. Eles voltam a ser um pouco mais o que eram para ser: elefantes. Nos cativeiros, eles mal conseguem andar”, disse.
Quem tiver interesse em ajudar a ONG pode acessar o site ou ligar para o número: (11) 99703-1204.
Nova hóspede
O santuário deve receber em janeiro de 2017 mais uma hóspede, a Ramba. Uma elefanta asiática, de 50 anos, que, por décadas, também trabalhou em circos na Argentina e no Chile, onde está hoje.
De acordo com Junia, o caso de Ramba é mais complicado pois o custo para o transporte será bem mais caro, pois ela precisará ser trazida de avião.
“A gente vai fazer toda a documentação dela e tentar angariar fundos porque o transporte vai ser bem mais caro do que das duas elefantas, porque ela terá que vir de avião. Já fizemos um orçamento e custaria 68 mil dólares só o voo. Então é bastante dinheiro, depois dela tem vários elefantes que estão em situações bem complicadas aqui no Brasil e também queremos oferecer abrigo para eles”.
A previsão é que o projeto seja implantado em cinco etapas, para abrigar até 25 animais, coforme a licença concedida pela Sema (Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso).
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